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A gente sempre diz pra Valda que ela é a presidenta do Farpa. É porque a Valda não tem medo de nada. Ela fotografa a sua terra, seus santos, ela fotografa a gente, ela fotografa a vida.

E a verdade é que ninguém fotografa a vida como a Valda, porque ninguém vê a vida como ela. Por isso, quando olhamos uma foto da Valda, vemos toda a beleza que se pode de uma pessoa, de um lugar, de uma história ou até de uma tragédia. Tudo na Valda transborda dignidade, e esta é a sua marca registrada - o cuidado, o carinho, a atenção que dispensa a qualquer pessoa que tem a sorte de, por alguns milésimos de segundo, emprestar-lhe a figura. Com um retrato - ou uma palavra - ela é capaz de capturar o que há de melhor em nós.
Seu segredo está na capacidade de traduzir a frondosa complexidade do mundo em imagens de uma simplicidade ímpar, em encontrar muito com muito pouco, em falar todas as línguas com uma só. E toda essa simplicidade é, sempre, uma forma contundente de denúncia, de busca pela mudança, pela transformação. A fotografia da Valda engrandece o seu povo, sua terra, sua gente, sua família, o lugar de onde vem.

Valda vem documentando a vida e a luta dos apanhadores de flores da Serra do Espinhaço, em Minas. São pessoas simples que vivem da colheita de flores sempre-vivas. As flores têm esse nome porque não perdem sua cor e sua forma mesmo anos depois de colhidas. Acaso ou não, nada pode representar melhor a Valda que as sempre-vivas.
A Valda segue sendo essa mulher negra, destemida, fotógrafa da vida, mensageira do seu povo, tradutora de todo riso e toda dor. Nada poderá apagar a sua voz, a sua vontade de viver, a sua bondade e o amor inexplicável que todos sentimos por ela.
É um privilégio sem tamanho dividir com ela essa trajetória. A Valda não tem medo de nada, e por isso ela segue entre nós. A nossa Valda, sempre-viva.

Valda Nogueira faleceu no dia 03 de outubro de 2019, no Rio de Janeiro, vítima de um acidente.

www.valdanogueira.com